Contemplado no Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2024/25 premiado monólogo ‘Nasci pra ser Dercy’, com Grace Gianoukas, será apresentado no Espaço Multiuso do Sesc Ramos, na sexta, dia 14

NACIONAL

Espetáculo traz Grace Gianoukas, vencedora dos prêmios APCA e SHELL (2024), de melhor atriz,
e I Love PRIO (2024), de melhor performance; e o diretor Kiko Rieser, vencedor do Prêmio Bibi Ferreira, de melhor dramaturgia original (2023)

Com voz off de Miguel Falabella, o monólogo presta homenagem a Dercy Gonçalves, artista
que rompia padrões e inaugurou uma representação genuinamente brasileira em nossos palcos

O premiado monólogo “Nasci pra ser Dercy”, estrelado por Grace Gianoukas e escrito
e dirigido por Kiko Rieser, presta uma homenagem a Dercy Gonçalves, uma das
maiores atrizes do século 20. Desde a estreia, há dois anos, o espetáculo é enorme
sucesso de crítica e público – visto por mais de 40 mil pessoas – por todas as cidades em

que passa com sua turnê nacional. E, nesta sexta-feira (14/03), às 19h, chega ao Sesc
Ramos, no Espaço Multiuso.
Grace Gianoukas foi vencedora dos prêmios SHELL e APCA de melhor atriz (2024), I
Love PRIO do Humor, de melhor performance, e Kiko Rieser vencedor do Prêmio Bibi
Ferreira (2023), na categoria Melhor Dramaturgia Original, por “Nasci pra ser Dercy”. O
espetáculo, produzido pela Ventilador de Talentos, ainda foi indicado ao Prêmio
Cenym de melhor monólogo, e prêmio Miguel Arcanjo, melhor direção, peça e atriz.
Assim como Dolores
Quando eu nasci, o Brasil já gargalhava com Dercy Gonçalves. À medida que eu fui
crescendo, fui assistindo a seus trabalhos no cinema, na TV, suas participações
memoráveis nos programas de auditório… No final dos anos 80, a partir de uma
sugestão da atriz Christiane Tricerri, fui convidada pelo Jornal da Tarde para, ao lado
de outras atrizes comediantes, assistir ao show de Dercy no teatro e conversarmos
com ela no final. Foi ótimo! Ela nos tratou com muito carinho e disse uma coisa que eu
nunca mais esqueci: “Evitem ficar tirando a roupa em qualquer trabalho. Enquanto
vocês são jovens, muitas vezes a nudez é só exploração da imagem feminina, é só
chamariz, não tem nada de arte. Deixem pra ficar nuas quando tiverem a minha idade.
Uma velha nua é uma transgressão, traz questionamento, e isso é arte.”
Convivi com várias mulheres de sua geração e sei dos horrores de moralismo,
machismo e opressão social que elas passaram, e por isso admiro Dercy
profundamente, pela força, inteligência, empreendedorismo e extraordinário talento
como atriz, autora e produtora.
O convite de Kiko Rieser para atuar em “Nasci pra ser Dercy” me trouxe uma grande
oportunidade de pesquisar e conhecer melhor Dolores Gonçalves Costa, que, assim
como eu, nasceu numa cidade do interior, onde muitas vezes se sentia extremamente
deslocada e incompreendida. No entanto, ao contrário de mim, que sempre tive o
apoio da minha família, ela teve que enfrentar o mundo sozinha, sem nenhuma
orientação, amparada apenas pela força de sua alma em expansão. Essa alma, guiada
pelo seu desejo de liberdade e conhecimento, ela batizou como Dercy Gonçalves, uma
grande guerreira que transformou sua dor em alegria para o povo brasileiro.
Grace Gianoukas, atriz
A avó de todos nós
Quando criança, eu queria que Dercy fosse minha avó. Dito isso em voz alta, minha avó
Daisy ficou ofendidíssima, ou ao menos fingiu que ficou, como se eu quisesse substituí-
la. Na minha cabeça – e foi isso que respondi – a coisa era simples: tendo apenas uma
avó, havia ainda um outro posto vago, que poderia ser ocupado por aquela velhinha
que me encantava com sua autenticidade e seu despudor em soltar verdades e
palavrões conforme lhe vinham à cabeça. Acho que nunca havia visto até então, como
tampouco vi depois, uma pessoa tão autêntica quanto Dercy Gonçalves. Faço parte da
última das diversas gerações que Dercy atravessou e influenciou em 101 anos de uma
vida intensa e prolífica, e é claro que descobrir uma senhora emplumada no alto de
seus 90 anos mandando “tomar no cu” quem lhe desse na telha e se dirigindo ao

presidente da República com um “ô, cara” tinha um sabor especial de transgressão. O
estigma da “velha louca que fala palavrão” me fascinou.
Mais tarde descobri como essa definição é redutora, e até mesmo falsa, porque de
louca Dercy não tinha nada. Pelo contrário, tinha consciência e método de sobra. Só
depois que escolhi o palco como ofício, me deparei com a imensa importância que ela
teve para o teatro e a autonomia das mulheres. Podemos dizer sem risco de exagero
que Dercy revolucionou o teatro brasileiro. Das tantas faces dessa atriz colossal, a
maioria segue desconhecida pelo país. Hoje, 17 anos após sua morte, acho
escandaloso que ainda não tenha havido uma obra dedicada a ela na arte à qual ela
dedicou toda sua existência: o teatro. “Nasci pra ser Dercy” é uma homenagem, mas
também um resgate histórico e um alerta para que a memória da cultura brasileira não
se perca, para que saibamos sempre quem são as pessoas que vieram antes de nós e,
assim como nossas avós, pavimentaram o caminho para que hoje sejamos quem
somos. Obrigado, Dercy!
Kiko Rieser, autor e diretor

Dercy Gonçalves (23/06/1907–18/07/2008) faleceu há 17 anos, aos 101 anos, sem que
jamais tenha havido nos palcos brasileiros uma peça que a homenageasse. Até agora!
O texto busca unir o apelo popular e o carisma de Dercy através de uma profunda
pesquisa, a peça mostra a importância, muitas vezes ignorada, da atriz para o teatro
brasileiro e para a liberdade feminina, bem como sua inquestionável singularidade.
Desbocada e defensora da mais profunda liberdade, era muito recatada em sua vida
íntima, chegando a se casar e enviuvar anos depois ainda virgem. Contestava
frontalmente a censura da ditadura militar, mas se recusava terminantemente a
levantar bandeiras políticas específicas que não fossem a da irrestrita liberdade e do
respeito a todas as formas de existir.
A atriz se consagrou como vedete do Teatro de Revista, mas sua maior contribuição ao
nosso teatro se deu ao levar essa expertise para a comédia popular, que ela
revolucionou inteiramente, trazendo textos fundamentais para o Brasil e instaurando
uma nova forma de interpretar, que rompia com todos os padrões e inaugurou em
nossos palcos uma representação genuinamente brasileira. Amada por quase todo o
país, Dercy Gonçalves é uma figura largamente reconhecida, mas pouco conhecida de
fato.
“Dercy Gonçalves é retratada quase sempre como apenas uma velha louca que falava
palavrão”, fala Kiko Rieser, que no texto procura revelar ao público a mulher grandiosa
e complexa que ela foi. “Uma atriz vinda do teatro de revista que recriou a comédia
brasileira. Uma mulher que era chamada de ‘puta’, mas que casou e enviuvou virgem,
iconoclasta e devota, libertária, mas avessa a qualquer bandeira, inclassificável e
singular”, completa o autor.
Sinopse
A peça começa com uma atriz, Vera, entrando no estúdio para fazer teste para o papel
de Dercy Gonçalves em um filme. Conforme vai dando suas falas, ela se revolta contra
o roteiro, cheio de estereótipos. Sua mãe era grande fã de Dercy e por isso Vera
cresceu conhecendo e sendo influenciada pelo exemplo dessa artista icônica. Ela
então, transformando-se em Dercy, começa a mostrar quem realmente foi essa
mulher à frente de seu tempo.
SERVIÇO
‘Nasci pra ser Dercy’
Sessão com intérprete de Libras
Endereço: Sesc Ramos – Rua Teixeira Franco, 38 – Ramos – Rio de Janeiro/RJ
Local: Espaço Multiuso – 5° andar
Data: sexta-feira (14/03)
Horário: 19h
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 15 (inteira), R$ 7,50 (meia/convênio), R$ 5 (credencial plena), gratuito
(público PCG e menores de 16 anos).

Atendimento: A venda dos ingressos acontece exclusivamente na Bilheteria do Sesc
Ramos, a partir de quinta-feira (06/03).
Telefone: (21) 4020-2101
Informações: https://ventiladordetalentos.com.br
Duração: 80 minutos
Capacidade: 60 lugares