O Jornal Imprensa entrevistou nesta edição Wadih Damous, advogado do presidente Lula, ex-presidente da OAB-RJ (2007-2012), e ex-deputado federal pelo PT-RJ (2015-2018). Quando chegou à Câmara, o cenário era de completo caos. Atuou com firmeza e determinação para denunciar o golpe que já vinha sendo arquitetado desde a reeleição da presidenta Dilma. Defendeu a liberdade do presidente Lula, denunciando os abusos criminosos da Lava Jato e não descansará enquanto não ver Moro e Dallagnol sentados no banco dos réus. Este ano, o presidente Lula deu a ele a missão de voltar à Câmara dos Deputados, para trabalhar na retomada dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, defendendo a soberania nacional e derrotar o bolsonarismo.
Jornal Imprensa- Em 11 de agosto em todo o Brasil ocorreram manifestações
em defesa da Democracia, inclusive com atos simultâneos, com leitura de manifesto.
Como analisa essa movimentação que ocorreu no Brasil?
Wadih Damous- Esses atos significam uma reação do que se convenciona chamar de Sociedade Civil Organizada contra o golpismo que Bolsonaro e seus assemelhados, os milicos fardados, enfim os golpistas de plantão. Serviram para isolar mais Bolsonaro do que ele já está isolado. Mandou-se um recado para ele dizendo que haverá reação caso qualquer tentativa de desrespeito ao resultado das eleições, ou qualquer tentativa de melar as eleições.
Foram atos muito importantes. Eu participei no ato da PUC, onde conclui o meu mestrado e serviu também para abrir o debate sobre a Democracia aqui no Brasil, isso é muito importante e obrigou a uma série de setores, até segmentos como o empresariado, que em 2018 apoiou Bolsonaro, hoje assinando uma carta firmando compromisso com a Democracia. Então faço um balanço positivo desses atos.
Jornal Imprensa- Entrando no tema da Lava Jato, hoje temos Sergio Moro hostilizado nas ruas, Dallgnol condenado. Esse é o “inferno astral” da Lava Jato? A ficha está caindo para a sociedade do que representa a Lava Jato contra a democracia?
No Jornal Nacional, Lula falou como um estadista
Wadih Damous- Por diversas vezes sobretudo quando eu estava no exercício de meu mandato na Câmara Federal, eu dizia a eles que quando as classes dominantes não precisassem desses criminosos Moro, Dallgnol, toda aquela gangue de Curitiba, eles sentariam no banco dos réus, eles passariam de acusadores a acusados, é o que está se vendo.
Hoje toda aquela farsa que se convencionou de chamar de Operação Lava Jato “veio a tona”. O mundo hoje sabe que Sergio Moro era um juíz desonesto, parcial, jamais agiu com isenção, estava ali cumprindo uma missão política, e utilizou o seu comparsa Deltan Dallgnol valendo do cargo de juíz e de procurador o outro, para destruir o ordenamento jurídico e utilizar o processo como “arma de guerra”. Então hoje acho que talvez em breve eles estejam aí visitando a “rede hoteleira” do sistema prisional brasileiro tipo: Bangu,8, Papuda, etc.
Jornal Imprensa- E também nessa oportunidade deputado vamos aprofundar sobre a Lava Jato. Com a possível vitória do ex presidente Lula, esse sentimento de punitivismo que permeou o Poder Judiciário, essa política lavajista, o Sr acha que vai permanecer no judiciário brasileiro? Eu gostaria que o Sr aprofundasse essa reflexão.
Wadih Damous- Lula vai ser chefe do Poder Executivo, e o presidente não interfere direta ou indiretamente no Sistema de Justiça. Agora não é claro, que a eleição de Lula vai ajudar a tensionar esse clima de ódio, essa coisa intolerante que existe no Brasil e que a Lava Jato aumentou muito.
Jair Bolsonaro é uma decorrência direta do que foi a Lava Jato. Mas acho que hoje existe, começa a se “jogar na consciência do povo brasileiro” um sentimento de que o processo não deve ser utilizado como “arma de perseguição política”, que as pessoas têm o direito de um julgamento justo, que há presunção de inocência até a condenação transitada e julgada, enfim.
Acho que essa consciência começa a “ganhar corpo” e é essa consciência que vai banir práticas lavajistas de nosso Sistema de Justiça, mas até lá teremos duros embates até que alcancemos esse estágio de desenvolvimento.
O mundo hoje sabe que Sérgio Moro era um juiz desonesto, parcial, jamais agiu com isenção, estava ali cumprindo uma missão política
Jornal Imprensa- Como reflexo da Lava Jato, nós sabemos que esta aí o governo do presidente Bolsonaro, inclusive está se aproximando o dia 7 de setembro que será, em sua opinião. o dia do golpismo ou o dia da democracia?
Wadih Damous- Bolsonaro adota a estética da deliquência para governar, para marcar a trajetória na vida pública, um “bravateiro”, não tem a menor condição de dar um golpe, ele não tem articulação, não tem prestigio, Ele não é referência para coisa nenhuma, ele é referência para essa gente tosca que o segue, essa gente não tem condições de dar golpe,o que ele pode tentar fazer é uma “arruaça”, uma baderna no dia da eleição para justificar uma intervenção que, por exemplo suspenda o processo eleitoral, mas o TSE já deixou claro que não vai tolerar isso, Alexandre de Moraes que já tomou posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral já deixou claro que vai enfrentar a deliquência e não vai permitir qualquer tipo de atitude que configure hostilidade no processo eleitoral e nas urnas eletrônicas. Então, o dia 7 de setembro vai ser comemorado como deve ser comemorado, como o dia da nossa Independência e Bolsonaro está tentando criar uma “arruaça” no Rio de Janeiro, mas não vai ser bem sucedido, porque ele está sozinho nessa empreitada.
Jornal Imprensa- O Sr pode nos dizer o que achou da recente participação de Lula no Jornal Nacional?
Wadih Damous- No Jornal Nacional aquela entrevista “entrou para a história da política e do jornalismo brasileiro”. O presidente Lula simplesmente deu uma aula de política, “uma aula de que é ser um ser humano”, do que é ser um estadista. Ontem aquela entrevista “lavou a alma de todos nós”, que estamos sendo governados por um deliquente.
O presidente Lula estava sereno, dominando a entrevista, sem que um minuto se quer tenha desrespeitado os seus entrevistadores, como Bolsonaro costuma fazer. Tratou a jornalista Renata Vasconcellos com respeito profissional , coisa que Bolsonaro não fez. Enfim, Lula falou com simplicidade tudo aquilo que o povo brasileiro precisa saber e consegue entender, porque Lula na política é o melhor comunicador que nós temos.
Então ontem foi “um dia histórico”, isso me deixou mais animado ainda no que diz respeito a essas eleições, eu já estava meio descrente da possibilidade de nós ganharmos a eleição no primeiro turno e agora eu tenho certeza que vamos ganhar no primeiro turno. O presidente Lula falou para “fora da bolha”, “da bolha do PT”, “da bolha da esquerda”. Ele falou para o povo brasileiro, “falou para os empresários”, falou para a classe média, para os trabalhadores, “falou para os evangélicos”, enfim, falou para todo o “povo brasileiro” e ao contrário de Bolsonaro, Lula ganhou votos e acho que, por exemplo, em relação a Ciro Gomes, Lula vai fazer com que o eleitorado de Ciro em sua grande maioria migre para sua candidatura, isso pode fazer a diferença na vitória no primeiro turno. Então, eu estou contente, muito feliz e orgulhoso de ter visto o meu amigo, meu presidente se apresentar ao povo brasileiro como um grande estadista que é “o maior estadista vivo do planeta”.
Jornal Imprensa- Para encerrar a entrevista, duas perguntas que considero essenciais, . hoje 11 de agosto, é dia da advocacia, o Sr poderia falar para os seus colegas sobre essa data ?
O Sr poderia comentar do período em que foi advogado do ex presidente Lula?
Wadih Damous- Hoje eu tenho muito orgulho de dizer que o presidente Lula é meu amigo, nós nos conhecemos no momento mais adverso talvez da vida dele e da vida do Brasil. “Ele é tão misturado com o Brasil que não há distinção”. O Brasil viveu o seu melhor momento com ele e o seu pior momento também. Aquele momento em que foi perseguido, “achincalhado”, foi linchado moralmente e eu tive ali a honra e a oportunidade de estar na sua defesa como advogado. E tive uma convivência com ele no período da prisão, quando o visitava em Curitiba e nós ficávamos horas conversando não só sobre os aspectos do processo, mas, sobretudo sobre a vida, a política e ali eu conheci de perto “um gigante”, ali de bermuda, camiseta e chinelo de dedo, todos aqueles meses isolado do povo brasileiro. Ele nunca demonstrou “ódio”, “mágoas”, ele tratou aquela questão como uma questão política. Ele sabia o que estava envolvido ali, que se tratava de algo direcionado as suas idéias, o que representou e representa.
Então ele encarou aquele momento, claro que ele estava indignado, claro que ele não se conformava com a idéia da injustiça que era vítima, mas ao mesmo tempo ele entendia que era política. E hoje está se vendo que ele saiu da cadeia e vai virar presidente da República. Para mim foi um legado, um acréscimo no meu patrimônio existencial ter ganhado a amizade e o reconhecimento do presidente Lula e ele sabe que sempre vai poder contar comigo, se eu me eleger deputado federal, ele sabe que eu continuarei na linha de frente, já agora, na defesa de seu governo, na defesa de seu mandato. Ele sabe que comigo pode contar para qualquer momento de felicidade ou de infortúnio, como foi aquele período triste da história do Brasil.