Prof. Antônio Augusto defende a Cultura e a História como instrumento de cidadania

NACIONAL
Criado em 1972 o Museu da Taquara tem em exposição fragmentos de uma história, como o retrato do Duque de Caxias, fotos da Capela e da Fazenda São Bento, além de uma poltrona e um busto do militar

Nossa reportagem especial desta edição é um caminho pelo resgate histórico do município de Duque de Caxias e da Baixada Fluminense. Quem nos leva a percorrer essa trilha de conhecimentos é o professor Antônio Augusto Braz, mestre em História Social do Brasil, coordenador do Museu Vivo do São Bento, membro fundador da APPH CLIO, da Asamih e diretor técnico do Museu Vivo da Capoeira situado em Nova Campina DC e do Museu Vivo de Areia Branca em Belford Roxo. Nosso entrevistado é renomado pesquisador da História, Patrimônio e Cultura da Baixada Fluminense, autor e professor da rede pública municipal de nossa cidade. Filho de pais que migraram do noroeste fluminense para nossa cidade no final dos anos 50 do século passado o professor Antonio Augusto é “nascido e criado” no bairro Dr Laureano, primeiro distrito de nossa cidade onde ainda reside.

O professor começou sua carreira acadêmica na FEUDUC onde ingressou como aluno em 1983 e formou-se em 1989. Em 1990 ingressa nos quadros de professores do Departamento de História da Instituição a convite do emérito professor Antonio Jorge Matos. Na FEUDUC ocupou os cargos de professor assistente e titular de História da América e Teoria da História, coordenador do Departamento de História e da Pós Graduação em História Social do Brasil e vice-diretor em 2007/2008. Em 2012 até 2015 a convite tornou-se diretor da instituição capitaneando sua recuperação a frente de um grupo de entusiasmados defensores Instituição obtendo sucesso mas retirando-se da direção por conflitos internos.

Espaço Museal do Instituto Histórico de Duque de Caxias criado em 1973

O professor se intitula carinhosamente um “feuduquiano de coração” e afirma orgulhosamente que deve tudo que tem a FEUDUC, seu corpo e professores, funcionários e alunos e ex alunos, em particular ao seu eterno professor Antonio Jorge Matos já citado e a professora Iris Poubel de Menezes Ferrari, diretora da Instituição por longos anos e que infelizmente a pouco nos deixou. Por essa “fidelidade amorosa” com a instituição o professor lamenta muito seu destino atual e não mede esforços ainda em apoiar tentativas possam ajudar na sua possível, mas cada dia mais improvável recuperação pois considera a história da FEUDUC e seu belo campus hoje desativado uma das riquezas patrimoniais da Baixada Fluminense. Uma dessas atuais e potentes iniciativas e a tentativa de criação do Condomínio Cultural Aldeia Criativa em seu campus com a presença de vários coletivos culturais que se movem, capitaneados pela APPH CLIO, instalada por comodado na chamada “Casa do Administrador”, para proteger o campus da instituição degradado e ameaçado por invasões.
Como professor de graduação e pós graduação de História na FEUDUC e na UNIGRANRIO, onde também atuou colaborou com a formação de centenas de professores e professoras da área e , a partir de compromissos acadêmicos assumidos na FEUDUC ainda nos anos 90, direcionados para o compromisso com o estudo, pesquisa e divulgação da História da Baixada Fluminense tão negligenciados naquele momento a pesar do esforço de uma heroica e anterior geração de apaixonados pesquisadores.

O Museu Ciência e Vida foi criado em 2010

Esse esforço contínuo de formação de professores e professoras de História comprometidos com a investigação sistemática e criteriosa de nossa região foi criando uma rede de “militantes da memória da história e da cultura do território” que num primeiro momento organiza instituições e ou coletivos voltados a essa tarefa e logo depois passa a avançar na direção de exigir dos governos políticas públicas voltadas a salvaguarda dos bens patrimoniais e da cultura popular. Nessa trilha em 1996 é criado no âmbito do Departamento de História da FEUDUC o Cempedoch-Bf encarregado de pesquisas e acervo e dois anos depois é criada a APPH CLIO, uma organização não governamental sem fins lucrativos, o mais importante pilar dessa luta de afirmação da Baixada Fluminense como objeto de pesquisas acadêmicas e motor da luta política em direção a constituição de arcabouços jurídicos e institucionais de politicas públicas culturais.

A Associação de Professores Pesquisadores de História Clio, como diz o professor, em sua tarefa política institucional participa da criação de vários etapas do processo de reconhecimento e salvaguarda do rico patrimônio historio da região. Em 2001 participa da revitalização do Instituto Histórico da Câmara Municipal de Duque de Caxias ajudando a fundar a ASAMIH, Associação de Amigos do Instituto Histórico, e criar a Revista Pilares da História que já se encontra em sua 25 edição. Em 2015 a APPH CLIO torna-se proponente junto ao governo Municipal através do SEPE, Sindicato Estadual de Profissionais de Educação, da criação do CRPH e do Museu Vivo do São Bento, criado em 2088, atual jóia da museologia em nosso território e grande representante da museologia social no estado junto com sues inúmeros e importantes parceiros da REMUS, Rede Estadual de Museologia Social.

Sobre Museus essa é a grande paixão e grande militância atual do professor e de uma vasta rede de ativistas culturais. Em particular a Museologia Social. Ele afirma carinhosamente que Duque de Caxias é a “capital dos Museus na Baixada Fluminense” apontando cinco deles instalados em nossa cidade. O Museu de Duque Caxias no bairro Taquara criado em 1972, o espaço museal do Instituto Histórico da Câmara Municipal de Duque de Caxias criado em 1973 mas revitalizado a partir de 2001, o Museu de Ciência e Vida no centro da cidade, primeiro distrito, criado em 2010, o Museu Vivo do São Bento criado em 2008 situado no segundo distrito e o “caçula”, Museu Vivo da Capoeira em Nova Campina criado em 2021, sendo os dois últimos filados a museologia social.

A defesa enfática do professor em afirmar que o rico patrimônio histórico e cultural de Duque de Caxias, da Baixada e das periferias em geral, além da preciosa construção da autoestima, podem oferecer uma ressignificação econômica aos territórios com a possibilidade de geração de emprego e renda, em diálogo com o Turismo por exemplo, nos faz pensar o quanto é importante avançar no debate para sua valorização e sua proteção. Nesses últimos anos muito já se fez nessa direção, como o fortalecimento do Conselho Municipal de Politicas Culturais e a criação de uma Lei de Tombamento municipal em nossa cidade, mas a degradação e o “pouco caso secular” ameaça ainda esse potencial produzindo ainda muitos estragos que precisam ser revertidos.

Esperamos poder contra com o professor em outras ocasiões para avançar por aqui em nosso jornal com esse importante debate e como ilustração dessa riqueza cultural potencial em nosso município na próxima pagina apresentamos o Museu Vivo do São Bento, aproveitando para convidar todos para conhecê-lo. Nos próximos números pensamos em apresentar outros importantes aspectos desse nosso patrimônio rico e ameaçado mas tão potencialmente capaz de ser útil no combate a desigualdade social de nossa região.