Jornal Imprensa: Quem é Waldeck Carneiro?
Waldeck Carneiro: Nasci na Praça Seca, em Jacarepaguá, Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro. Sou filho de nordestinos que migraram para o RJ a fim de tentar a vida. Dinheiro era algo que não circulava na minha casa: foi muita luta! Sou filho da escola pública: a educação estruturou a minha vida e se transformou na minha principal pauta política. Estudei na Universidade Federal Fluminense e depois me tornei professor da UFF, na Faculdade de Educação, onde também fui diretor. Fiz doutorado em Sociologia da Educação (com bolsa de estudos) na Sorbonne (Paris/França). Fui vereador por Niterói em três legislaturas e estou no segundo mandato como deputado estadual na ALERJ, onde presido a Comissão de Ciência e Tecnologia. Também sou vice-presidente das Comissões de Economia e de Cultura, além de participar ativamente das Comissões de Educação e de Direitos Humanos, entre outras. Fui relator do impeachment do ex-governador Wilson Witzel, da CPI do RioPrevidência e sou relator da CPI dos Trens.
Jornal Imprensa: Aliás, o transporte ferroviário de passageiros é um caos, principalmente para o morador da Baixada Fluminense, não é?
Waldeck Carneiro: Sem dúvida! Aliás, um dos principais desafios da região metropolitana do RJ é exatamente a mobilidade urbana. A Supervia presta um péssimo serviço; trata muito mal os usuários no cotidiano. Como relator da CPI dos Trens da ALERJ, tenho contribuído para superar algumas das dificuldades, visando melhorar a situação dos passageiros dos quatro ramais de trem, lembrando aqui que três deles cortam a Baixada Fluminense. Barramos o aumento da tarifa, que passaria de R$ 5 para R$ 7; lutamos pelo retorno da linha expressa do Ramal Santa Cruz, diminuindo em uma hora o tempo de viagem até a Central do Brasil; pressionamos as forças de segurança para que realizassem operações contra o furto de cabos na malha ferroviária e ações nos ferros-velhos que comercializavam o material roubado. Temos denunciado que, das 104 estações, apenas 23 têm acessibilidade e somente 21 possuem banheiros. É um acinte ao usuário, sobretudo às pessoas com deficiência, idosos e mulheres grávidas. O RJ, a rigor, vive um pré-colapso do seu sistema ferroviário!
Jornal Imprensa: O que mais chamou a sua atenção nas vistorias da CPI dos Trens?
Waldeck Carneiro: O Ramal de Belford Roxo, um dos que atravessam a Baixada, está em situação de abandono. Em quase todos os ramais, há construções irregulares invadindo a ferrovia; há verdadeiros “lixões” às margens da via férrea; constatamos a presença do tráfico de drogas nas estações: aliás, de acordo com a própria concessionária, 12 estações estão controladas pelo crime organizado; a situação de trilhos e dormentes é péssima em vários trechos da malha; as canaletas laterais das vias férreas estão abandonadas, há mato sem capina em vários trechos; falta regularidade e pontualidade no serviço. Além disso, o mínimo que se espera de um Estado que decidiu não mais operar o sistema, desde 1998, era que atuasse firmemente na fiscalização e na regulação do serviço. Ora, a agência reguladora (AGETRANSP) dispõe de apenas nove fiscais para monitorar 104 estações e 270 KM de malha ferroviária: um descaso! Além disso, o serviço é custeado exclusivamente pelas tarifas, por isso há necessidade de se propor receitas extratarifárias. O trem é um meio de transporte fabuloso, com potencial incrível para garantir o direito de ir e vir da população trabalhadora. E não adianta o governador Cláudio Castro vir agora, perto das eleições, com projetos mirabolantes, como a ideia de fazer o metrô da Baixada. O metrô de superfície da Baixada já existe: são os três ramais (Belford Roxo, Saracuruna e Japeri). Mas para que funcionem com o padrão do metrô, é preciso investir em modernização, manutenção, segurança, acessibilidade e conforto. Se isso for feito, os trens, funcionando como metrô de superfície, serão o principal meio de transporte para os 12 milhões de pessoas que vivem na Região Metropolitana do RJ.