Apresentação na sede do Museu Vivo da Capoeira ou Caminho do Pilar

NACIONAL

Os treze municípios que compõe a Baixada Fluminense carregam a marca de uma História profunda, diretamente ligada como não poderia deixar de ser coma História do Brasil e do mundo. A presença dos povos originários tupinambás, da colonização afro lusitana nos mais de trezentos anos de Brasil colônia, da luta contra a escravidão, da dinâmica social, econômica e política do Brasil Império no século XIX, da escravidão e da luta pela liberdade e das intensas transformações urbanas e sociais do século XX deixaram marcas na atualidade percebidas ou não por seus moradores e moradoras de hoje em dia.

Essas marcas, mais ou menos visíveis, fazem parte do cotidiano de nossas cidades e compõe o conjunto de seu Patrimônio Histórico e Cultural . As edificações, lugares de memória, fazeres e saberes e tradições que formam esse conjunto rico, variado e ameaçado tem sido longo das última décadas objeto de pesquisadores e militantes apaixonados e empenhados em conhece-los, revela-las e defende-las.

O Patrimônio Histórico e Cultural das cidades de Baixada Fluminense, assim como de todas a cidades e lugares, constituem o elemento central de sua identidade . A luta por conhecer e defender esse Patrimônio vem de gerações e bem recentemente ganhou uma abordagem institucional quando o departamento de História da FEUDUC ainda nos anos 90 instituiu como objetivo estratégico da formação de seus alunos e alunas, futuros professores e professoras, o conhecimento sistemático da Historia da região, medida logo após seguida pelo graduação de História da UNIGRANRIO.

Essas iniciativas levaram para dentro das redes de ensino o tema e criaram as condições para que nas décadas seguintes se desse largada a uma série de desdobramentos que reforçaram o esforço de pesquisa e sistematização e se promovesse um intenso debate regional propondo políticas públicas e ações institucionais que visassem a defesa dessa enorme riqueza cultural. Hoje pudemos dizer que o conhecimento do Patrimônio Histórico e Cultural da Baixada Fluminense é muito mais amplo, mesmo que longe do ideal, do que teria sido em outras épocas e que esse debate já faz parte das pautas de política pública na região mesmo que ainda não tenham consolidado da forma que ainda se faz necessário infelizmente.

De todo o rico espectro cultural e histórico que forma os nossos municípios, seu conjunto de tradições, fazeres e saberes diversos, ou seja aquilo que chamamos de sua cultura imaterial, forma um impressionante caleidoscópio cultural. A Baixada Fluminense é um território de migrantes. Nas décadas que constituíram o século XX um volume enorme de famílias dirigiu-se para cá vindo dos quatro cantos do Brasil e do mundo. Dos interiores do estado do Rio de Janeiro, em particular do norte noroeste, do Espírito Santo e de Minas Gerais s e do Nordeste do país, de maneira cada vez mais sistemática na medida que o século avançava a região foi sendo ocupada e um crescimento populacional avassalador se instalou.Também de diversos lugares do planeta a imigração internacional colaborou para a configuração desse cadinho de gentes e costumes. Basta olhar para dentro de nossas famílias e perceber a presença marcante da História desse movimento migratório. Nós, os atuais moradores da Baixada, somos frutos diretos desse fenômeno social.

No campo cultural essas marcas migratórias são muito fortes. As festas juninas, as folias de reis, as tradições religiosas afrodescendentes, a tradição capoeira, as feiras populares, a gastronomia e costumes cotidianos e tantos outros traços culturais e comportamentais estavam e ainda estão presentes no dia a dia do povo baixadense, em menor ou maior grau, mesmo perdendo força diante do avanço de modernidade. Essa rica cultura imaterial tem sido alvo de estudos sistemáticos pela rede de instituições e pesquisadores avulsos na direção de seu registro e tendo como objetivo sua preservação como valor cultural identitário e possibilidade real de geração de renda incluso que estão nas lógicas da Economia Criativa. Em cada rua, bairro e cidade da Baixada é fundamental a construção desse catálogo. As memórias de nossos moradores mais antigos, nossos familiares em suas ricas trajetórias de sobrevivência e que são fundadores de nossa História recente, pais e avós, precisam ser conhecidas preservadas e apresentadas as novas gerações e as práticas culturais de ontem e de hoje precisam ser conhecidas e defendidas pois elas são uma de nossas maiores riquezas.

O MUSEU VIVO DA CAPOEIRA

Uma das estratégias mais eficientes para a catalogação e defesa dos fazeres, saberes e costumes populares é a prática da museologia social. De forma muito resumida a museologia social propõe que os museus além de suas funções culturais se apresentem como plataformas de luta em direção das demandas sociais dos territórios ou dimensões culturais nos quais estão inseridos. Museus sociais e comunitários tem se multiplicado no estado e estão organizados em torno da Rede de Museologia Social do estado do Rio de Janeiro, a REMUS. Aqui em Caxias dois museus são membros dessa rede. O Museu Vivo do São Bento e o Museu Vivo da Capoeira.

O Museu Vivo da Capoeira é uma iniciativa recente, original e muito potente. Apresentado ao público em 2020 está situado no terceiro distrito de Duque de Caxias no bairro de Nova Campina tendo como sede provisória a Associação de Moradores de Nova Campina. Reúne expressivas lideranças capoeiras da cidade em sua composição e tem como objetivo preservar, catalogar e expor a tradição espetacular da capoeira, que um dos ícones da identidade nacional, a partir das experiências históricas e culturais da cidade e da Baixada Fluminense .Tem como desfaio central, aprofundar a pesquisa sobre o tema, registrar a memória da comunidade capoeira da região e oferecer um diálogo cultural qualificado com a comunidade em geral e com as redes de ensino em particular.

Sua direção executiva é formada por Mestres e Contra mestres respeitados na cidade e pela tradição capoeira nacional como Mestre Raimundo Filho, Mestre Levi, Mestre Reginaldo Acaddi, Mestre Lula, Mestre Geremias, Mestre Nogueira, Mestre Izaias, Mestre Everaldo, Mestre Dagoméia, Mestre Coca e Contra Mestre Xavante entre outros e conta com a colaboração de pesquisadores de renome em seu corpo técnico como os professores Alexandre Marques e Marcelo tendo também minha presença na posição de diretor técnico do Museu ao lado dos professores citados. Como formato original seu Conselho Deliberativo é formado não por pessoas mas sim por 28 grupos de capoeira formalmente constituídos na cidade de Duque de Caxias e municípios limítrofes.

A dinâmica de visitação está sendo organizada no sentido do visitante apreciar o acervo apresentado em forma de exposições fixas na sede e itinerante em escolas e outros locais e ter acesso, dentro de calendário e agenda previamente elaborados, a uma das rodas dos grupos que integram ou se relacionam com o Museu. Assim o Museu Vivo da Capoeira poderá apresentar ao visitante uma experiencia de imersão no fascinante mundo capoeira a partir da apreciação e apresentação guiada e qualificada de seu acervo e participação efetiva em rodas onde . Assim o Museu Vivo da Capoeira também se apresenta como “museu de percurso”, “museu de céu aberto” visto que sua experiencia museal vai além da sede e cruza o território duque caxiense e baixadense. Visitar o Museu Vivo da Capoeira será visitar o Museu em si e visitar as espetaculares da experiencias da tradição capoeira no nosso território.